Teologia nas pequenas coisas
Sobre o que eu aprendi sem o Twitter
❗️Teologia nas pequenas coisas
1.
— O Alex está mais feliz sem o twitter.
Recebi esse comentário em uma aula e gostei. Por muito tempo eu dei excessivo valor às redes sociais. Eu tinha muita dificuldade para ficar afastado delas e mesmo quando decidia ficar fora, acabando voltando. Sempre que eu retornava, continuava do mesmo lugar em que parei. Me envolvia nas discussões típicas das redes, a maior parte só relevantes para a bolha. Era uma espécie de crença velada de que eu salvaria o mundo com minhas opiniões.
No fim do dia como eu me sentia? Nervoso, frustrado, inquieto. Era nítido em meu corpo: minhas mãos ficavam trêmulas e eu sentia um calor dentro de mim, um ímpeto — quase maligno — de ter que retrucar alguém. Meus pensamentos ficavam acelerados e eu me desconectava do que acontecia perto de mim.
A rede social fazia — e faz — mal pra mim.
2.
Mas confesso que dar esse passo de deixar de usar o Twitter não foi difícil, não desta vez. Estou contando para vocês isto hoje, logo quando o serviço do X está suspenso no Brasil, mas é só porque lembrei deste fato. Me afastei desta rede já no ano passado. Hoje não acho difícil ficar afastado desse tipo de discussões, não mais.
O que mudou?
Eu percebi o que eu estava perdendo ao dedicar minha energia nestas discussões. Faz parte do meu trabalho responder e-mails e WhatsApp, estar presente no instagram, gravar podcasts. Naturalmente isto já faz com que eu fique muito grudado no celular, o que já é bem ruim. Mas as discussões elevam ainda mais o problema, primeiro porque ativam um lado instintivo em mim de responder agressivamente. Segundo porque me geram ansiedade. Terceiro porque me desviam do que é importante. E eu não queria mais isso, e precisava de paz.
3.
A demanda do meu trabalho me levava a ter que fazer mais coisas no instagram e eu queria muito poder escrever meus livros e dar uma contribuição, modesta e pequena, com minhas ideias. Acho que o Roberto DaMatta foi importante aqui, quando ele escreve sobre a sociologia da casa e da rua, e afirma que a maior parte dos teóricos se ocupam em dar respostas para a rua (as estruturas da sociedade) e poucos dão atenção à casa (as estruturas das relações humanas). Exatamente isto eu percebi ao escrever a versão final da minha tese de doutorado. Não vou me delongar nisso hoje, pois seria necessário expor um pouco mais meus pensamentos. Até comecei a esboçar essa ideia aqui:
Já tentei explorar minhas ideais em vídeo no meu canal do YouTube. Mas eu não tenho paciência nem tempo para a rotina de gravações, edições e produção. Eu não me considero um bom comunicador. Dou pro gasto, sabe? Não que meus textos sejam lá muito melhores do que meus vídeos. Mas pelo menos eu gosto de escrever. Então, acho que com o tempo vou melhorar. (Desculpe pela sinceridade, mas você que me lê é minha cobaia e eu escrevo pra você na esperança que você tenha paciência de aguardar eu melhorar um dia)
Percebi que o que me fazia usar mais o twitter era o desejo de escrever. Então eu precisava de uma rede de texto, mas sem o estresse do debate (ou bate-boca), dos sensacionalismos e das soluções baratas pra qualquer coisa.
Assim, me aventurar na escrita me obrigou a refletir sobre o que de fato é essencial e importante para mim, para minha vida. Tudo isso para, de alguma forma, ajudar com meus 5 centavos de opinião quem se aventurar a ler.
4.
Eu estou mais feliz hoje por poder simplesmente compartilhar que recebi três latas de salsichas alemãs. Sim, na Alemanha o recheio da salsicha pode ser colocada em uma lata ao invés de em uma tripa. Eu queria muito uma dessas latas e os Rudolph me mandaram! Eu fiquei muito feliz com isso.
Preparamos uma mesa e curtimos pra caramba o momento de comer elas em família. Me dói pensar que estive muitas vezes à mesa preocupado com alguma futilidade de twitter, ao invés de rir e se alegrar com quem estava ali comigo.
Eu sou naturalmente introspectivo. Não sou falante. Prefiro ficar no meu canto ao estar no meio de pessoas. Mas não posso ignorar o fato de que eu também me divirto, me desafio, e aprendo ao estar com pessoas. Preciso valorizar mais isso.
Sair do twitter e começar a escrever aqui me fez parar para refletir que eu preciso dar mais atenção às coisas pequenas e cotidianas onde Deus se mostra em sua bondade e graça.
5.
Eu não sei quais são os teus desafio e o que te rouba energia e te fazer deixar de enxergar as belezas de Deus nas coisas pequenas, mas eu te recomendo não desistir. Não desista de ver Deus agindo por meio de uma lata de salsichas.
💪 Recomendo
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Você disse que percebeu que usar bastante o twitter era por conta do seu desejo de escrever.
Lendo isso, agora percebi também que depois que criei o substack e comecei a descarregar aqui minha escrita minha vontade de responder e debater nas redes diminuiu. Na verdade a tempo eu já não acessava antes do embargo do xandão.
Os poucos caracteres das redes em geral não nos permitem responder com a profundidade que gostaríamos, no substack podemos nos deleitar. kkk.