❗️Você tem medo de ser esquecido?
1.
Um dia seremos apenas pó e nosso nome será apenas um nome numa lápide - e pode bem ser que nem isso reste de nós.
Meu irmão tirou essa foto uma década atrás em uma viagem com meus pais e minha avó ao Rio Grande do Sul. Me lembro quando estive neste cemitério na linha Clara, Teutônia/RS. Meu pai viu esta lápide e perguntou para minha avó quem era “Hugo Wiebusch”. A pergunta era necessária. O sobrenome de solteira de minha avó era Wiebusch, o nome do meu pai é Hugo.
— Meu irmão — Respondeu minha avó.
Ela nunca havia mencionado que tinha um irmão e que um dos filhos recebera o nome do irmão falecido com apenas 6 meses de idade.
Lembrança e esquecimento. O nome do irmão falecido viveu no meu pai, mas a memória daquela criança se perdera no tempo, no esquecimento. O túmulo reacendeu a lembrança, mas um dia será também esquecido novamente.
2.
Todos temos medo de ser esquecidos. Quando criança temos medo de sermos esquecidos em casa quando os pais saem pra viajar. Ninguém quer ser o Kevin, de “Esqueceram de mim”. Adultos não queremos ser esquecidos ou ficar de fora. Em tempos de redes sociais foi cunhada a expressão em inglês FOMO, o medo de ficar de fora. Postamos coisas, interagimos nas redes, escrevemos no Substack para não sermos esquecidos e não ficar de fora dos rolês.
Mas inevitavelmente seremos esquecidos e ficaremos de fora. Virá uma geração mais ágil, mais conectada, mais ligada que a nossa e tomará nosso lugar. A geração Instagram vai sempre achar os Tiktokers sem graça e fúteis.
3.
Em um rompante de revolta nos rebelamos contra o algoritmo. Decido não postar por uma, duas semanas. Decido ir para o Substack, onde não há algoritmo. Liberdade!
Mas por pouco tempo. Fomos moldados pela lógica das redes. Ela funciona na base da dopamina. Nós queremos os números. Ficamos aficcionados com a taxa de abertura, o número de curtidas, quantas recomendações ou assinaturas.
Esquecemos que seremos esquecidos. Somos esquecíveis. Se acostume com isso, e logo. Memento mori, recorda-te da morte.
4.
É muito provável que textos como este sobrevivam a mim mesmo. Estarei há muito tempo morto e os bits deste texto estarão por aí na rede. Mas também com isso não posso contar. Quem garante que nenhuma tempestade solar, revolução das máquinas ou o simples desinteresse econômico em manter os cloudservers ligados faça com que tudo que escrevi suma da internet um dia.
Não escreva para ser lembrado, não há garantia que isto aconteça.
6.
Não escrevo para alcançar a eternidade. Escrevo para me lembrar que não sou eterno. Não escolho meus temas conforme algum propósito editorial específico. Escrevo conforme pulsa minha vida. Decidi escrever sobre esse assunto enquanto chutava uns pinhões no caminho entre a minha casa e uma palestra no auditório da Faculdade. Me lembrei da foto que coloquei acima e da conversa que tive com a turma na aula de história da igreja a respeito do apagamento das histórias das mulheres nos livros de história. Amanhã outro assunto povoará minha cabeça e este de hoje será passado, terá passado, provavelmente esquecido.
7.
Ao mesmo tempo escrevo para me lembrar. Sou muito esquecido no meu dia-a-dia. Esqueço das minhas tarefas da vida. Sou “avoado”. Escrever me ajuda a fixar na memória o que é importante. Me esforço por fazer bilhetes e notas, mesmo que, muitas vezes, eu também me esqueça deles. Mas não posso confiar na minha memória, pois ela é seletiva e interesseira. Ela só gosta daquilo que parece interessante e apetitosa para ela. Mas a vida não é feita só das coisas que gostamos. Então preciso fazer minhas lápides de coisas para lembrar agora, mesmo que depois eu vá esquecer.
8.
E se este texto for esquecido? Provavelmente será. Importante mesmo é sermos sempre relembrados do que importa. Daquele que é eterno. Daquele que vive além da nossa memória. Se nos esquecermos dele, então, nem mesmo o nosso pó restará.
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