❗️Que tipo de pastores nós somos?
1.
O ser humano é movido por desafios. Cada um de nós rapidamente se acostuma e domina algo e logo em seguida deseja dar um passo além. O filosofo grego Aristoteles já havia percebido e descrito este anseio humano. Vemos isto hoje no avanço tecnológico. O que ontem foi novidade, hoje já é passado e amanhã terá que vir algo novo para que nos surpreenda. As coisas tendem a ficar ainda piores em um mundo viciado na dopamina produzida pelas redes sociais, pelos aplicativos de entretenimento e pelos dispositivos conectados permanentemente à internet.
Me pergunto qual será o impacto disto para a Igreja e que tipo de pastores somos neste mundo marcado por constante necessidade de avanço. Não estou pensando agora como alguém preocupado com a comunicação do evangelho nas redes, mas como teólogo preocupado com a essência do que é ser igreja.
Digo isto, pois, já vimos os resultados do pragmatismo evangelístico norte-americano. As grandes conferências de crescimento e plantação de Igrejas tiveram muito sucesso, mas junto com ele, muito retrocesso. Basta ver quantos destes líderes famosos sucumbiram ante escândalos ligados ao abuso de poder, busca por dinheiro e desvios na sexualidade. Não é errado desejar que a igreja alcance mais pessoas ou que novas comunidades surjam. Mas é errado desejar isto por motivos egoístas.
Como discernir, então, se o que buscamos é genuíno?
2.
Por quatro anos minha esposa e eu lideramos pastoralmente uma comunidade em uma cidade do oeste catarinense. Estávamos longe dos colegas de ministério, dos grandes centros e suas conferências e dos nossos pais. No tempo pré-pandemia ainda não se falava muito em conferências online. Assim, tudo que era novidade demorava muito mais para chegar até nós. Estávamos recém-chegados do exterior e ainda não bem adaptados à realidade brasileira. Então o sentimento de estar perdendo algo, de estar por fora de tudo era grande. Mas também era grande o desejo de fazer algo duradouro e de deixar uma marca positiva para aquela igreja. Me lembro que um colega me deu acesso a umas aulas de um curso de revitalização de igrejas. Tudo começava com um olhar para dentro de si mesmo, detectar se o meu coração estava no lugar correto em primeiro lugar.
No entanto, o que eu buscava com afinco eram fórmulas do que poderia dar certo naquela localidade. Eu queria respostas para as pessoas. Algo com que elas pudessem sonhar junto com a gente. Era também o desejo delas, sair do marasmo e estagnação da igreja e abrir novos campos, alcançar mais pessoas. Nada disso é ou foi errado. Eram desejos sinceros de servir a Deus e anunciar o Evangelho.
Mas ali nesse meio também nosso coração pode se enganar. Podemos nos deixar levar por paixões e convicções nada evangélicas. Podemos permitir que a competição e o favoritismo se instalem no nosso meio. Você pode acabar até se envolvendo, mesmo sem desejar ou perceber, num jogo de egos e de histórias mal resolvidas. Não há culpados e inocentes. Todos, de alguma forma, contribuem num cenário destes, calando, consentindo, incentivando, inventando explicações, espiritualizando. O discernimento se torna quase impossível.
É no meio desse jogo de empurra-empurra, onde egos se confundem com o agir do Espírito, que está a igreja.
3.
Mas o que é essa igreja? Se a Bíblia está correta, então ela é o corpo de Cristo, a noiva do nosso Senhor, a casa de Deus, a comunhão dos santos. Isto só para citar alguns de seus títulos. A Igreja não pode ser confundida com a somatória das pessoas que estão nela. O apóstolo Paulo já alertou para o fato de que o corpo de Cristo não pode estar dividido. E essa afirmação não é alegórica ou simbólica. A Igreja é o corpo de Cristo, e como só há um Cristo, não há como haver divisão. Divisões são contrárias à natureza da Igreja.
Mas sempre há quem consiga dar um jeitinho para contornar este problema. É o que acontece com as explicações individualistas para a natureza da Igreja. A igreja seria, neste caso, um clube espiritual, uma reunião de indivíduos. Tudo é pensado para o individuo e suas sensações espirituais. Ele precisa estar confortável. Nada pode impor barreiras para ele ter uma sensação espiritual. Devemos facilitar tudo para que o individuo tenha o seu caminho livre até a sua escolha pessoal. Aliás, o evangelho se tornou uma mera escolha pessoal, como quem escolhe entre comida asiática e italiana.
Me pergunto o que faria um crente moderno se viajasse no tempo até o primeiro século e descobrisse que, apenas os instruídos e batizados poderiam adentrar ao recinto fechado onde haveria comunhão entre Cristo e a sua noiva. Como lidariam com o fato de que as perseguições realmente custavam a vida dos cristãos. Como entenderiam que homens e mulheres vendiam tudo o que tinham para simplesmente servir e esperar a volta de Cristo?
4.
No mundo do evangelho individualista nada disso faz sentido. Se troca de Igreja como quem troca de roupa. Se reclama do pastor como quem devolve o pedido ao garçom no restaurante. Se fazem exigências anônimas como se a comunidade fosse guiada por indicadores de KPI e NPS do marketing empresarial.
E é neste ponto que descobrimos que nossa alma já deixou o corpo, o Espirito a igreja, e o que sobrou foi um clube religioso.
5.
A cada conferência bacana em São Paulo deveríamos visitar uma igreja com 6 pessoas numa cidade do interior. A cada livro sobre crescimento deveríamos tomar café com um pastor fiel que luta por sua pequena igreja sem sucesso. A cada ideia mirabolante para revolucionar nossa igreja deveríamos nos permitir ser confrontados com realidade dos cristãos que sofrem por não poder se reunir. Cada pastor e líder deveria orar com João Batista: “É necessário que ele cresça e que eu diminua.” (João 3.30)
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Maravilhosa reflexão, que Deus abençoe sempre. Lição para todos nós.
Muito necessário para os dias de hoje irmão, Deus abençoe!