❗️Eu preciso de silêncio
1.
Eu preciso de silêncio. Há muito aprendi que só consigo organizar minha mente confusa, meus sentimentos difusos e minha agenda bagunçada no silêncio. Mas o silêncio não vem por si só, eu preciso buscá-lo e alimentá-lo.
2.
Aprendi com o tempo a conviver com o barulho. Quando fomos para o nosso primeiro ministério moramos em um apartamento que ficava diretamente “em cima” da rua. Havia uma faixa de pedestres elevada e a rua era de paralelepípedo. Se eu fechar os olhos consigo sentir no peito o trepidar das carretas e caminhões passando por ali dia e noite. Com o tempo me acostumei ao barulho.
3.
Há, porém, sons que ouvimos mais que outros. Quando a Ana nasceu (e foi no tempo daquele apartamento barulhento) resolvemos colocar seu berço em nosso quarto por uns dias. Queríamos ter certeza que ela estava respirando a noite. Coisa de pais de recém-nascido. Foi aí que adquirimos a audição do Superman. Não deseje ter uma super audição. É terrível! Não conseguíamos dormir, pois estávamos o tempo todo vigiando o respirar, o resmungar, os mínimos ruídos vindos do berço. Nem uma carreta na rua conseguia atrapalhar nossa escuta atenta. Os sons da Ana eram ensurdecedores, não pelos decibéis, mas pelo eco em nosso coração. Aflição, medo talvez? Insegurança, com certeza. Precisávamos de silêncio. Então Ana foi para o seu quarto e eu aprendi a ouvir ela chamando para mamar de madrugada. O silêncio (ou a surdez seletiva pros caminhões e roncos de bebê) me permitiam dormir.
4.
Perdemos a capacidade de ouvir porque ouvimos tudo e demais e alto de mais. Quando nos mudamos pra Alemanha compramos um brinquedo novo pra Ana. Acho que era uma espécie controle remoto. Pais empolgados porque podiam dar uns brinquedos high-tech pra criança. Tinha até nível de volume ajustável. Mas ele parecia ter um defeito. O som era muito baixo. Com o tempo descobrimos que o problema não era o brinquedo, éramos nós. Brinquedos infantis (e fones de ouvidos infantis) tinham limite de decibéis na União Europeia para não danificar a audição das crianças. No meio do oceano de barulhos e ruídos precisamos aumentar o volume do que queremos ouvir e não percebemos que estamos causando um dano sonoro em nós mesmos. Perdemos a sensibilidade aos sons. Só ouvimos barulho.
5.
Por isso o silêncio é tão ensurdecedor. Um dos lugares que visitei e que eu acho mais incríveis é um parque dos sentidos que fica no Wöhrder Wiese em Nurembergue, na Alemanha. Lá você pode aguçar alguns dos seus sentidos, bem como ter a experiência de perder alguns deles. Em uma câmara fechada você pode experimentar a ausência quase completa de sons. A sensação é estranha. Você começa a ouvir a si mesmo, os sons do seu corpo. Eu gravei rádio por muito tempo e sempre era claustrofóbico ficar naquela caixa hermética para gravar. É ensurdecedor ouvir a si mesmo tão alto, apesar da ausência de alto-falantes. Por outro lado qual é o efeito em nós de pararmos de ouvirmos a nós mesmos? Nós temos medo de nos encontrarmos frente a frente conosco mesmos, com nossos sons incômodos, e nos ocultamos na multidão de sons e barulhos.
6.
Por isso me pergunto se de fato ouvimos a Deus ou se nos acostumamos tanto com o barulho que confundimos Deus com os muitos ruídos a nossa volta. A voz do Senhor é poderosa e estrondosa como o trovão (Salmo 29), é verdade! Procuramos, como Elias, ouvir a Deus no vendaval, no vento forte, no terremoto e no fogo, mas a falta de silêncio não nos permite ouvir o sussurro suave (1 Rs 19.12b) do Senhor. Quantas vezes ele nos fala no silêncio, mas nós não o ouvimos por estamos imersos no mundo frenético do barulho? Talvez precisemos pegar o caminho do deserto, como Elias, e no silêncio (e inclusive no silêncio da nossa alma inquieta!) encontrar o Senhor que fala no sussurro suave.
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