É óbvio
Sobre as coisas que consideramos óbvias, mas não são (mais)
❗️É óbvio
1.
Final da aula um aluno vem até mim e diz:
— Não entendi nada da aula da semana passada, mas com a de hoje as coisas começaram a fazer sentido.
Respondi a ele que era porque eu repetia propositalmente ideias e conceitos acrescentando aos poucos novas informações. A repetição é a alma do aprendizado.
Não é óbvio que eles teriam que saber aqueles conteúdos.
2.
Era o nosso primeiro churrasco com o pequeno grupo da Lu na Alemanha. Ela tinha perguntado o que tínhamos que levar e disseram para ela trazer pepinos. Óbvio que churrasco precisa de uns aperitivos. Compramos alguns vidros de pepinos em conserva. A Lu me perguntou sobre a carne, se deveríamos comprar também. E eu disse que não, pois era óbvio que se não falaram pra levar era porque seria rachado no final.
Não era nada óbvio. Alemães não comem pepino em conserva no churrasco. O pepino seria para fazer uma salada fresca, portanto deveria ser pepino japonês fresco. E a carne era para trazer de casa, o contrário teria sido avisado.
Na dúvida pergunte.
3.
Não fazemos as perguntas porque temos medo de sermos vistos como ignorantes. Ninguém quer dar a impressão de não saber. No entanto esta postura prejudica apenas a você mesmo. Ao não perguntar você acaba perdendo a oportunidade de crescer e aprender. Mesmo que a pergunta seja somente para expressar a dor com o novo aprendizado, o inconformismo de não estar entendendo, ainda assim ela é valiosa. É justamente quando lutamos com o aprendizado, que aprendemos.
Percebo isso a cada ano que se passa. Eu tenho que lidar com novas turmas, mas com os mesmos conteúdos. Textos que me pareciam desafiadores há 3 anos hoje são para mim vozes vivas. Mas esta experiência também me ajuda a não exigir que os alunos tenham que entender um texto por óbvio.
A primeira leitura sempre será dolorosamente difícil. Mas com o tempo elas se tornam, não só mais fáceis, como também mais prazeirosas, e as descobertas serão mais intensas.
5.
Inclusive falei bastante sobre isso em um dos workshops do Clube Teologia do Alemão no início deste ano. Falamos sobre “Como ler textos difíceis”. Depois daquela aula tive ainda que fazer mais duas, uma sobre Karl Barth e outra sobre Gustav Aulén para mostrar na prática como podemos extrair mais do texto. Assinantes pagos da Newsletter tem acesso a esse conteúdo todo lá no Notion do Clube.
Por hoje não vou me alongar no texto, pois preciso me preparar para o próximo Workshop. Quer saber o assunto?
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