❗️Comparações e consciência pesada
1.
— O Alex ama Byung Chul-Han e coordena o Marketing. Como isso é possível?
Ouvi essa constatação na sala de aula tempos atrás. Sempre tento levar ela como um elogio, mas algumas vezes penso que pode ser também uma crítica, ainda que de leve. Tento levar numa boa, mas muitas vezes tenho crise de consciência.
Eu deveria usar ferramentas de marketing para levar pessoas a cursar teologia?
Por que não usar ferramentas de marketing para levar pessoas a algo bom para elas, sendo que se usa marketing para tantas coisas ruins por ai?
Meu dilema com a ferramenta é o dilema do Um Anel. Através de mim ele exerceria um poder do bem. Mas impôr o bem já não seria uma forma de mal?
Crise de consciência pesada.
2.
Abro o Instagram. Rolo do feed ou stories. Alguns perfis de humor, caixinhas respondidas dos amigos. Fotos de trabalho e lazer de outros. Alguém falando de milhas e eu lembro que as minhas estão lá em uma conta sem serem usadas. Alguém falando de viagem e ai bate aquela vontade de ir também.
A consciência diz:
— Vai com calma, barato é sempre um conceito relativo!
Rolo mais um pouco e alguém fazendo um trabalho legal de divulgação teológica. O demônio da comparação (ou seria só meu ego mesmo?) assalta e pede:
— Só olha as métricas, rapidinho.
O estrago está feito. A pessoa cresceu e eu, que não consigo me alegrar com o outro, me comparo:
— Eu devia estar crescendo, devia estar dando mais de mim!
Fecha o Instagram, pois as tarefas urgem e a consciência está ainda mais pesada.
3.
Somos seres sociais e é plausível que nos comparemos uns aos outros. A grande maioria de nós é dotada de capacidades semelhantes e condições semelhantes para executar tarefas e levar a cabo planos simples. Essa condição natural de “igualdade” nos vende a falsa ideia de que o simples esforço sempre trará a digna recompensa.
Só que muitas vezes não traz.
Não é só a loteria do nascimento que nos divide, uns mais dotados que outros, uns mais abonados que outros. Mas ainda tem as bets da vida. Aquele jogo de cartas marcadas onde você acha que tem chance matemática, mas como já está tudo combinado, você ganha uma vez e perde em todas as outras.
Não, não estou falando da loteria estatal, nem dos sites de apostas. Me refiro aos nossos talentos e recursos. Não os recebemos no nascimento de forma igual. A sociedade não os reparte como nas divisões da quarta série em que você usava o material dourado, aqueles cubinhos de madeira. Na vida a matemática é outra.
E aí você se compara e até sonha que a loteria poderia ter te sorteado na vida. Ou então você aposta, crendo que é só dominar as regras do jogo para ganhar. Mas você se autoengana, pois há lógicas por debaixo dos panos da sociedade que não são estatísticas e probabilísticas. Nesse bingo certas cartelas já vem com algumas pedras cantadas antes do jogo começar. Na vida o FairPlay é só uma ideia boa, mas vaga.
Frustração da comparação. Consciência pesada.
4.
Mas será que existe alguma comparação que seja boa?
Será que existe alguma crise de consciência que me permita amadurecer?
5.
Se for para nos compararmos, então que nos comparemos com quem um dia seremos.
Sem choro, sem morte, sem dor. Criado novo. Filho de Deus.
Nos comparamos com quem não é a nossa régua de medida. Nossa frustração é fruto tão somente do nosso egoísmo, cobiça e inveja. Todas travestidas de um pretenso senso de justiça. A única comparação deveria ser conosco mesmos, mas não com uma visão idealizada, marketeira e bem sucedida aos olhos da sociedade. Devemos nos comparar apenas com nosso eu escatológico, com nossa versão final e acabada, aquela totalmente nova que receberemos quando Deus fizer novas todas as coisas. Nossa consciência deve, sim, pesar. Precisamos, sim, de crise de consciência. Mas não pelas comparações tolas e fúteis dessa vida. Nossa crise deve ser pelo descompasso que precisamos suportar entre nossa forma presente e nossa forma futura.
Mas essa crise é boa, pois é através dela que somos provados pelo Espírito Santo para termos uma consciência limpa, pura e boa e alcançarmos a maturidade. Só assim vamos aos poucos e imperfeitamente buscando nos conformar, não com um influencer qualquer, não com o vizinho bem-sucedido, mas o Filho de Deus, de quem nós recebemos a imagem e na forma de quem nós seremos conformados.
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